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DE IBIARA
Outro dia, observando as "vielas digitais" do Brasil, tropecei em algo curioso: um grupo de brasileiros com saudade do império. Aquele de Dom Pedro (I e II), com coroa de ouro e escravidão legalizada. E eles estavam ali, postando com orgulho frases como “na época do império o Brasil era respeitado” e “precisamos de um monarca novamente”. Confesso que seria cômico se não fosse trágico, daquelas nervosas, meio engasgadas.
Existe um desejo social envernizado de nostalgia. Um desejo esquisito de voltar ao tempo em que o Brasil tinha um imperador, como se isso fosse sinônimo automático de ordem, progresso, e tardes de chá nos jardins da "Quinta da Boa Vista". Como se bastasse uma coroa para resolver as chagas abertas de séculos. Como se a monarquia brasileira não tivesse sido um palco de desigualdades e exclusões gritantes.
Mas por que esse desejo? Talvez porque o caos nos emburrece e a fantasia nos abraça. É mais fácil idealizar um tempo em que "tudo parecia estar no lugar", mesmo que o lugar fosse o "tronco e o pelourinho" para uns e a sala de baile para outros. É a síndrome do espelho embaçado: "só se enxerga o que agrada, o que brilha". O povo que aplaude a monarquia de sofá costuma esquecer que, no império, nem todos podiam sentar no trono, nem mesmo no chão.
A saudade do império é, no fundo, saudade de uma ordem idealizada, que nunca existiu de fato para a maioria. É desejo de hierarquia disfarçado de tradição. É querer mandar sem dizer que está mandando, é colocar uma coroa imaginária sobre a cabeça do país e fingir que agora tudo se resolve com nobreza, como se problemas sociais tivessem medo de brasões.
O brasileiro tem o hábito de fantasiar o ado quando o presente incomoda e o futuro assusta. Mas toda saudade seletiva é perigosa. Porque lembrar do império sem lembrar dos "grilhões" é o mesmo que celebrar um baile sem notar os servos lavando o chão com sangue e suor. Saudade do império? Só se for para estudar. Porque viver sob ele, a maioria de nós não viveria; serviria. E com sorte, em silêncio.
Talvez o problema nunca tenha sido a falta de coroa, mas o medo de olhar no espelho e encarar que o verdadeiro poder, esse sim revolucionário, nasce de baixo para cima. E esse, a monarquia nunca soube lidar.
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